Lançado em janeiro de 1972, o álbum Transa é um dos títulos mais cultuados da discografia de Caetano Veloso. O disco foi gravado em 1971, durante o exílio do artista baiano na Inglaterra, e resultou menos melancólico, cinzento e interiorizado do que anterior álbum londrino do cantor e compositor, Caetano Veloso (1971).
Elevado ao status de obra-prima com o passar dos anos, Transa é disco pautado pela efervescência criativa dos músicos. Essa ebulição é perceptível nos arranjos criados coletivamente pela banda formada por Jards Macalé (violão), Tutty Moreno (percussão), Moacyr Albuquerque (baixo) e Áureo de Souza (bateria) – banda, aliás, omitida nos créditos da edição original de Transa, para irritação de Caetano Veloso.
Composto em inglês e em português, o repertório bilíngue de Transa cruza referências de Luiz Gonzaga (1912 – 1989) e Beatles na fronteira entre a MPB e o rock, sem perder a Bahia de vista em horizonte musical que inclui um pioneiro mergulho na praia do reggae na faixa Nine out of ten.
Disco com alto grau de experimentação e repleto de citações que prenunciaram a cultura dos samples, Transa ganha releitura instrumental do saxofonista brasiliense Esdras Nogueira no quarto álbum solo do músico, Transe, programado para chegar ao mercado fonográfico em 9 de abril.
Músico egresso de Móveis Coloniais de Acaju, banda brasiliense que anunciou recesso em 2016 após 18 anos de atividade profissional, Esdras Nogueira aborda o repertório de Transa, 47 anos após a edição original do álbum, com os toques da guitarra de Marcus Moraes, do baixo de Rodrigo Balduino e da bateria de Thiago Cunha.
Os arranjos de músicas como You don't know me (faixa já lançada previamente como primeiro single do álbum Transe) e Neolithic man – ambas compostas por Caetano Veloso e gravadas com a voz de Gal Costa – foram criados coletivamente pelos músicos do Esdras Nogueira Grupo, em referência à liberdade que pautou a gestação do álbum original de 1972.
A intenção do saxofonista ao criar Transe foi fundir sons e grooves distintos, em sintonia com a própria história de Esdras, mas com alusões à alquimia de Transa.
A propósito, a capa do álbum Transe também remete à arte de Transa sem ser cópia da capa original.
Fonte: G1 Mauro Ferreira