Luiza Possi era adolescente de 17 anos quando, em 2001, gravou dueto com a mãe, Zizi Possi, na canção Haja o que houver (Pedro Ayres Magalhães, 1997), sucesso do já extinto grupo português Madredeus. Destaque de Bossa (2001), último álbum de estúdio de Zizi, a sensível gravação de Haja o que houver irmanou mãe e filha.
Dezoito anos depois, Luiza é cantora de carreira consolidada, já caminha para os 35 anos – a serem celebrados em junho – e está grávida de oito meses do primeiro filho, Lucca. Talvez por tudo isso e pela segurança adquirida na estrada, Luiza novamente tenha se nivelado com Zizi no primeiro show das duas cantoras.
Em miniturnê pelo Brasil ao longo do mês de maio de 2019, Luiza e Zizi – O show chegou à cidade natal de Luiza, o Rio de Janeiro (RJ), após ter estreado em São Paulo (SP) e seguido para Belo Horizonte (MG).
Evidentemente presente no roteiro afetivo que versou sobre os laços de amor, reforçando o metafórico cordão umbilical que liga eternamente Luiza a Zizi, a canção Haja o que houver foi aplaudida pelo público que lotou o Teatro Village Mall na noite de quinta-feira, 31 de maio.
Cúmplices no palco nesse show que mistura amor, música e algum humor (nos diálogos pretensamente espirituosos entre mãe e filha), Zizi e Luiza se irmanaram em cena. Até porque, se Zizi já mostrou mais viço na afinada voz cristalina (brilhando mais à medida que o show avançou), Luiza esteve luminosa em números como o solo da cantora carioca na canção sertaneja Fogão de lenha (Maurício Duboc, Carlos Colla e Xororó, 1987). Sentada no canto do palco, Zizi assistiu Luiza dar voz a essa canção simples e emotiva cuja letra é recado afetuoso de filho para mãe.
Aberto com o samba Boas vindas (1991), composto por Caetano Veloso para saudar a chega do filho Zeca Veloso ao mundo, o show surtiu efeito reduzido nos primeiros duetos. Alguma coisa pareceu fora da ordem musical em Paula e Bebeto (Milton Nascimento e Caetano Veloso, 1975) e mesmo na valsa João e Maria (Sivuca e Chico Buarque, 1977).
O primeiro número à altura da expectativa do encontro foi Força estranha (Caetano Veloso, 1978), música que alcançou pleno sentido no roteiro porque havia no palco uma "mulher preparando outra pessoa". E a barriga era a de Luiza, vista ainda bebê e também na barriga de Zizi em fotos exibidas no telão na abertura do show.
Com arranjos do tecladista Ivan Teixeira, o show resultou (muito) aquém do padrão estético de Zizi. A cantora se apresentou com a banda habitual de Luiza. Mas Zizi é Zizi, uma das grandes cantoras do Brasil. E isso ficou claro quando ela soltou a voz na valsa Luiza (Antonio Carlos Jobim, 1981), revivendo a canção que gravou em 1984 como homenagem à filha que pôs no mundo naquele ano. E aí foi Luiza quem, do canto do palco, assistiu à sedutora performance solo da mãe.
Os arranjos triviais nunca colaboraram para um resultado plenamente harmonioso, mas Zizi novamente mostrou que é Zizi quando encadeou Sangrando (Gonzaguinha, 1980), A paz (João Donato e Gilberto Gil, 1987) e Proposta (Roberto Carlos, 1973) em set individual.
Alternando solos e duetos das cantoras, o roteiro pareceu feito para provocar a cumplicidade do público. Tanto que, ao fazer cover de I will always love you (Dolly Parton, 1974) com a ambição de emular o registro vocal da emblemática gravação de Whitney Houston (1963 – 2012), Luiza arrancou aplausos da plateia no meio do número.
As lembranças de Asa morena (Zé Carapidia, 1982) e Perigo (Nico Rezende e Paulinho Lima, 1985) reforçaram a sensação de que Luiza e Zizi – O show foi concebido para conquistar o público pelo coração ao reunir mãe e filha em cena costurada por músicas e laços afetivos.
Fonte: G1 Mauro Ferreira