04/07/2019

Cesar MC emociona com seu novo single

Os dois pontos de virada na carreira do capixaba Cesar MC, 22 anos, têm registros assistidos milhões de vezes no YouTube e com centenas de comentários emocionados.

No primeiro, em 2017, Cesar ganhou o Duelo de MCs nacional em Belo Horizonte, em disputa eletrizante com o rapper local Drizzy. Dali, despontou no hip hop brasileiro. Dois anos depois, ele causa comoção dentro e fora do rap com a música “Canção infantil”.

No duelo Cesar se impôs com vocal agressivo. Já na nova música ele alterna esta força com um arranjo acústico e versos nostálgicos. Eles lembram contos infantis e os contrastam com sua vida adulta, em especial diante do racismo e violência na periferia.

César Resende Lemos nasceu e vive no Morro do Quadro, no centro de Vitória. Filho de funcionário público e professora de português, chegou a começar a graduação em matemática na Universidade Federal do Espírito Santo (UFES).

Na adolescência, ele ouvia Racionais MCs e Emicida, mas também Charlie Brown Jr., Legião Urbana e, por influência dos pais, Milton Nascimento e a banda capixaba Moxuara. Fosse rap, rock ou MPB, o fascínio era pelos textos.

“Sempre fui tímido, calado. Absorvia muitas coisas ao meu redor, mas ficava no meu mundo. As pessoas até acham que eu era louco. Na escola, eu ficava mais no canto. Em casa, escrevia na parede do quarto”, conta Cesar.

Ele até tentava escrever músicas, sem mostrar para ninguém. "Mas no final de 2014 eu vi, pela primeira vez, uma batalha de MCs. Foi na Praça do Sesc, aqui em Vitória. As coisas que eu já fazia estavam ali na minha frente. Desde aquele dia eu não parei mais."

Cesar se jogou nas batalhas de rimas improvisadas, que fomentam o rap e revelam artistas. Uma das maiores batalhas do Brasil hoje é o Duelo de MCs, em Belo Horizonte. Mas até chegar ao "Brasileirão do rap", Cesar penou.

"Eu tinha que viajar para batalhas, mas não tinha dinheiro da passagem. Fazia bico de pedreiro, vendia CD gravado por R$5, o que fosse. E na época as batalhas não tinham essa audiência. Mas eu precisava batalhar, evoluir. Foi um corre absurdo."

Quando ele entrou na faculdade de matemática, já estava envolvido com o rap. Ele tentou conciliar por um semestre, mas a divisão não bateu.

"Eu estudava muito e de noite ia para as batalhas. Tive que escolher. Na real, nunca me dei ao luxo de largar a universidade. Eu troquei por um curso que não tinha na UFES, só tinha na rua. E precisava me dedicar o mesmo tanto."

O empenho de dois anos deu na vitória nacional do Duelo de MCs de 2017. “Isso me deu voz. Como se todos aqueles anos se somassem em um grito para sair do anonimato. Abriu uma porta”, comemora.

 

O nascimento da ‘Canção infantil’

Um mês após levar o Duelo, ele chegou a outra final nacional, o Slam BR - Campeonato Brasileiro de Poesia Falada, em SP. Essa taça não foi dele, mas o texto que ele inscreveu na final seria semente de outra vitória maior em 2019: a letra de “Canção infantil”.

Cesar se envolveu com a produtora carioca Pineapple Storm, canal mais popular do rap brasileiro, com séries como “Poetas no Topo” e “Poesia Acústica”. Cesar entrou no casting da Pinneaple, também um escritório de artistas.

“Eu fechei com o Cesar porque parecia que ele rimava para salvar o mundo. As pessoas veem nele essa entrega”, diz Paulo Alvarez, dono da Pineapple. “Sem contar que é um cara perfeccionista, não é a toa que foi estudar matemática”.

Ele entrou em vários “cyphers” - vídeos colaborativos com MCs criando sobre a mesma base. Mas seu foco eram as faixas solo e a transição das rimas de bate-pronto à criação de canções. "Eu fiz da batalha minha parada. Agora quero o mesmo com as músicas."

Após dois clipes solo de 2018, “Quem tem boca vaia Roma” e “Minha última letra”, veio “Canção infantil”. “Quando ouvi no estúdio eu chorei, todo mundo chorou. Aí investi. É o clipe mais caro da Pineapple de longe, R$ 30 mil. O maior antes era R$ 18 mil”, diz Pedro.

Cesar chamou para participar de “Canção infantil” a cantora mineira radicada no Espírito Santo Cristal Korres e o Serenata Canto Coral, de Vitória. “Antes para gravar uma música eu tinha 60, 80 reais. Hoje tenho tempo de respirar, estruturar, isso é muito bom”, diz.

Além do clipe caprichado e da letra forte, outro apelo de “Canção infantil” ao público geral é o arranjo de rap acústico. Misturar violões e arranjos suaves com rimas de rap é receita de sucesso no Brasil, do selo 1Kilo à própria série “Poesia acústica”.

Mas Cesar defende que o apelo não é o acústico em si, mas a evolução para o final mais forte. “O contraste foi intencional. É o contraste da infância e a vida adulta. O choque de amadurecer", ele diz da faixa que fez o dono da produtora e muitos fãs chorarem.

 

 

 

Fonte: G1 Pop e Arte

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