Tão logo entrou em cena no início dos anos 1970, mostrando que um negro criado no morro podia atravessar a fronteira do samba em direção a todos os ritmos do universo pop, Luiz Melodia (7 de janeiro de 1951 – 4 de agosto de 2017) entrou na mira da censura que vigiava a produção artística do Brasil na época.
Lançado na voz de Gal Costa em 1971, o compositor carioca teve inicialmente vetadas músicas como Farrapo humano (1972) e Presente cotidiano (1973). Com o famoso jeitinho brasileiro, o produtor e empresário Guilherme Araújo (1936 – 2007) conseguiu a liberação de várias composições proibidas do artista.
Sem ter o mesmo destino libertário, talvez por conta da atmosfera densa da letra, Feto, poeta do morro – composição da safra inicial de Melodia – permaneceu vetada e esquecida pelo próprio autor, mesmo após o fim da censura.
Apresentada a Pedro Luís pela viúva de Melodia, Jane Reis, Feto, poeta do morro renasce em single lançado na sexta-feira, 6 de março de 2020, 47 anos após o lançamento do antológico primeiro álbum do Poeta do Estácio, Pérola negra (1973), para o qual a música foi presumivelmente composta (embora a imagem da letra datilografada por Melodia com o carimbo da censura sugira que o veto, ou um dos vetos, ocorreu em 1974).
Seja qual for a data exata da criação da música, Feto, poeta do morro é pérola negra com o brilho inicial da obra de Luiz Melodia. Produzida por Rafael Ramos, a reluzente gravação de Pedro Luís ajuda a mostrar o brilho de composição que capta o clima de medo e morte que pesava o ar no Brasil dos anos 1970.
Potencializada pelo toques da guitarra e do violão de Fernando Caneca, a efervescência do arranjo traduz a agitação do poeta do Estácio na geografia carioca e valoriza o single.
Fonte: G1 Mauro Ferreira