06/04/2020

Titãs lançam EP 'Trio acústico 1'

Seria injusta e cruel com os Titãs qualquer comparação do atual registro do show Trio acústico com a gravação ao vivo que, em 1997, resultou no Acústico MTV da banda paulistana.

Blockbuster da discografia do grupo, cujo rock vinha perdendo a adesão popular na década de 1990 por conta de álbuns pesados como Tudo ao mesmo tempo agora (1991) e Titanomaquia (1993), o álbum Acústico MTV dos Titãs reconciliou o grupo com o chamado grande público e bateu recordes de vendagem, gerando hits e a pressão por desnecessário Volume dois (1998).

Decorridos 22 anos do segundo acústico, os Titãs sobrevivem no mercado, reduzidos a um trio formado por Branco Mello (na voz e no baixo ou violão), Sergio Britto (na voz e no piano ou baixo) e Tony Bellotto (no violão ou guitarra acústica).

Em cena pelo Brasil desde 2019 com turnê de show acústico, o trio apresenta neste mês de abril de 2020 o primeiro dos três EPs que compõem o álbum Titãs – Trio acústico, gravado em estúdio.

A formação mais enxuta gera registros mais minimalistas, mas nem por isso menos eficientes, como atesta a audição do EP 01, lançado na sexta-feira, 3. Reouvida na voz de Sergio Britto, parceiro de Paulo Miklos na composição, Porque eu sei que é amor (2009) ganha vida e sutil acento de soul / R&B.

Um dos singles do álbum A melhor banda de todos os tempos da última semana (2001), a canção Isso ressurge na voz do autor Tony Bellotto, que estreia na função de vocalista da banda, sem comprometer, tanto em Isso quanto em Querem meu sangue (They harder they come) (Jimmy Cliff, 1972, em versão em português de Nando Reis, 1984).

Quando os Titãs recorrem a hits mais batidos do repertório da banda, o resultado de Trio acústico EP 01 por vezes soa menos envolvente. Reouvida na voz de Branco Mello, Sonífera ilha (Ciro Pessoa, Branco Mello, Marcelo Fromer, Tony Belloto e Carlos Barmarck, 1984) se salva, escorada no charmoso clipe – em que várias personalidades dublam trechos da canção – e no perene apelo popular da canção, primeiro sucesso dos Titãs.

Miséria (Arnaldo Antunes, Paulo Miklos e Sergio Britto, 1989) perde parte da contundência no registro que roça clima camerístico no toque do piano de Sergio Britto, solista da música lançada no álbum Õ blésq blom (1989), de cujo repertório o trio também retoma O pulso (Arnaldo Antunes, Marcelo Fromer e Tony Bellotto, 1989).

Música conduzida pelo violão e pelo canto de Branco Mello, Tô cansado – parceria de Branco com Arnaldo Antunes lançada no álbum Cabeça dinossauro (1986) – se ressente da ausência do clima punk do disco em que foi apresentada ao universo pop.

Do mesmo álbum Cabeça dinossauro, Família (Arnaldo Antunes e Tony Bellotto) aparece em cadência de reggae pop.

A questão é que, neste disco Trio acústico, a crítica social de Familia e de outras músicas do EP 01 já soa inócua porque os Titãs – na justa luta pela sobrevivência – já parecem cantar para “as pessoas na sala de jantar ocupadas em nascer e morrer” perfiladas pelos Mutantes em Panis et circensis (Caetano Veloso e Gilberto Gil, 1968).

 

 

 

 

 

 

 

Fonte: G1 Mauro Ferreira

" " " "