A história da música brasileira tem uma considerável participação de Roberto Carlos. Com 60 anos de carreira, o cantor se consolidou como um dos maiores nomes do gênero romântico da MPB. Mas, antes disso, lá nos anos 60, o artista, que viria posteriormente a ser conhecido como "rei", contribuiu para descortinar um gênero que, à época, ainda engatinhava no país: o rock n roll.
Inspirado claramente em nomes como Elvis Presley e Little Richard , Roberto Carlos foi revelado ao mundo da música quando fundou o primeiro grande movimento de rock no Brasil: a Jovem Guarda. Ao lado de Erasmo Carlos e Wanderléa, o cantor fez história em um programa de TV que apresentava ao país o novo estilo musical que havia explodido nos Estados Unidos.
O que talvez nem tanta gente saiba é que, se não tivesse recebido um "não", provavelmente Roberto Carlos não teria ajudado o Brasil a descobrir o rock. A informação é de João Marcello Bôscoli, conhecido produtor musical brasileiro, que ostenta, além do trabalho com grandes artistas do país, a certidão de nascimento "estrelada". Ele é filho de Elis Regina, uma das maiores cantoras do século 20, com o também produtor musical e empresário Ronaldo Bôscoli.
A revelação foi feita em entrevista à EPTV, afiliada da TV Globo, que exibe, a partir desta terça-feira (2), uma série de reportagens que esmiúça o pop rock. Na segunda (1º), a emissora fez o lançamento do concurso "ÉPra cantar", que vai revelar um talento do gênero e tem como prêmio uma apresentação de 25 minutos no palco do João Rock, em Ribeirão Preto (SP).
Assista acima o trecho da entrevista de Bôscoli, que não foi exibido na reportagem na TV, e veja abaixo os detalhes da história da crítica a Roberto Carlos que contribuiu para a explosão do rock no Brasil. Além disso, para esquentar para o concurso (veja abaixo detalhes e como se inscrever), o produtor musical também explicou o que ele entende sobre o que é a música pop e o gênero do pop rock.
Roberto Carlos já levou 'não'?
Já. E esse "bastidor" da música envolve o pai de João Marcello, Ronaldo Bôscoli. Quando chegou ao Rio de Janeiro ainda garoto, depois de sair de Cachoeiro do Itapemirim, no Espírito Santo, Roberto Carlos já tinha o sonho de se tornar um grande nome da música brasileira. No entanto, influenciado pela revolução que João Gilberto havia criado nos anos 50, ele também queria cantar bossa nova.
E foi aí que recebeu a crítica que pode ter mudado a sua vida. Ronaldo Bôscoli, que à época já trabalhava com produção musical e era próximo dos pilares da bossa nova, achou que Roberto não iria funcionar bem no gênero. E disse isso a ele sem muito pudor.
"O Roberto mostrou para ele o álbum, e falou: o que você acha? Meu pai falou: cara, acho que você não dá para isso aí não. Roberto disse: como assim, bicho? Você ainda vai ouvir falar de mim. Meu pai respondeu: pode ser, mas não vai ser cantando bossa nova. Passou um tempo, o Roberto explodiu e virou a maior estrela do Brasil", contou João Marcello Bôscoli, lembrando com bom humor da história.
Já saboreando o início do auge, como um dos responsáveis por fazer o público do Brasil conhecer o rock, aproveitando o caminho aberto por Celly Campello, considerada a precursora do estilo no país, Roberto Carlos encontrou Ronaldo tempos depois e não deixou barato. "Meu pai encontrou com ele na televisão. Aí o Roberto: pô, bicho, você lembra que você falou que não ia rolar isso, né? Então, fiz sucesso. Meu pai disse: é verdade, mas não com bossa nova", completou Bôscoli.
A partir daí, o resto é história. Roberto Carlos se tornou uma lenda da música brasileira, os dois ficaram amigos e Ronaldo Bôscoli trabalhou por 24 anos com ele, ajudando a produzir os especiais de fim de ano da TV Globo, de 1970 a 1994.
'Algo que seja de assimilação instantânea'
João Marcello Bôscoli entende o gênero do pop como "mutante" e qualquer coisa que seja de assimilação instantânea do público, chegando até uma grande quantidade de pessoas. Ou seja, a música do momento. Além disso, o produtor musical explicou que para algo ser considerado um gênero musical obrigatoriamente ele precisa ter repetição de padrões.
"A música pop não entra em questões estilísticas de forma mais profunda, mas falam que são músicas que têm que ter até três minutos, uma estrutura de verso-refrão, o up beat, ou seja, quando tem uma batida forte precedida por uma mais fraca, tem uma questão temática de pegar algo que faz parte do dia a dia das pessoas. Estou falando isso de maneira ampla e com arredondamentos", explicou.
Em relação ao pop rock, Bôscoli acredita ser difícil definir porque, em cada momento do tempo, ele se comporta de uma forma. Segundo ele, por mais que o gênero aparentemente viva um estado de inércia, não tem mais como tirar ele do cenário porque em algum momento vai haver uma explosão novamente.
"Música é uma ilusão perceptiva que acontece dentro do nosso cérebro. O que você está ouvindo não é o que sai da caixa de som, isso é uma interpretação cerebral. Há semelhanças porque a gente tem semelhanças biológicas, mas para cada pessoa é um lance. (...) O pop rock não vive um momento de exuberância, mas a qualquer momento isso pode mudar com o surgimento de uma estrela", finalizou.
Fonte: G1