14/05/2024

Martinho da Vila recria as próprias criações em álbum

No mundo a partir de hoje, 13 de maio, o álbum Violões e cavaquinhos é mais um disco em que Martinho da Vila recria as próprias criações entre algumas músicas inéditas, alongando discografia iniciada em 1967.

Mesmo sem alcançar a dimensão conceitual do antecessor Negra ópera (2023), o álbum flui bem ao longo de 12 faixas. A rigor, o disco deveria se chamar Cordas e percussões.

Ou então Violões, cavaquinhos, pandeiros e tamborins, pois o artista fluminense sentiu necessidade de adicionar percussões às cordas manuseadas por instrumentistas do naipe de Ana Costa, Claudio Jorge, Carlinhos Sete Cordas, Gabriel de Aquino, Rafael dos Anjos e Wellington Monteiro (nos violões) e Alaan Monteiro, Alceu Maia, Fernando Brandão, Nilze Carvalho, Pretinho da Serrinha e Wanderson Martins (nos cavaquinhos).

O chamariz do disco na mídia tem sido as participações do rapper L7nnon na regravação de Canta canta, minha gente (Martinho da Vila, 1974) e de Preta Gil na abordagem de Disritmia (Martinho da Vila, 1974) em faixa com Ex-amor (Martinho da Vila, 1981).

L7nnon faz discurso cadenciado, menos duro do que a prosódia habitual do rap, mas, à essa altura, misturar samba com rap é algo já corriqueiro. Já Preta Gil tem a presença justificada pelo fato de Martinho ter alterado o gênero de versos de Disritmia para inverter papéis sociais reservados às mulheres e aos homens.

O apuro instrumental do álbum Violões e cavaquinhos salta aos ouvidos em faixas como Sempre bela (Matinho da Vila, 2024), inédito samba-canção lustrado pelos toques do violão de Gabriel de Aquino e do cavaquinho de Alaan Monteiro.

Na ordem das músicas no disco, Sempre bela é faixa antecedida por Coisa de preto (2024), inédito samba de acento rural e ritmo quase calangueado, composto por Martinho da Vila em parceria com Chico César. A letra alinha iguarias e habilidades associadas ao povo preto em faixa que evidencia o suingue do coro feminino recorrente no disco e orquestrado por Analimar Ventapane, filha de Martinho, que também trouxe outras duas filhas, Alegria Ferreira e Mart'nália, para o álbum.

Música também inédita, Mulher sorriso (2024) brilha menos entre o lote de novidades do disco. Trata-se de samba feito por Martinho a partir de texto do escritor e filósofo Arnaldo Niskier. Na gravação, o brilho maior vem do violonista Gabriel de Aquino e o cavaquinhista Alaan Monteiro. Os músicos deitam e rolam entre levadas de marcha-rancho e timbres evocativos da obra erudita do compositor alemão Johann Sebastian Bach (1685 –1750).

Samba-enredo composto por Martinho da Vila para o Carnaval de 2023 da escola Unidos de Vila Isabel, Amante fiel completa o lote de músicas inéditas, resultando sem a força de outras incursões do compositor pelo gênero.

No mais, o álbum Violões e cavaquinhos reapresenta músicas já presentes na discografia de Martinho. Há a junção de Patrão, prenda seu gado, samba de 1931 – de autoria da santíssima trindade formada por Donga (1889 – 1974), João da Baiana (1887 – 1974) e Pixinguinha (1897 – 1973) – com o pioneiro samba Pelo telefone (Donga e Mauro Almeida, 1916).

Há medley de calangos. E também há a junção de Roda ciranda (Martinho da Vila, 1984) com Madalena do Jucu (Martinho da Vila, 1989) em faixa incrementada pelo coro. E, claro, pelos violões e cavaquinhos tocados com maestria e ouvidos ao longo deste disco em que o artista mantém hasteadas as bandeiras da fé, da esperança, da negritude, dos enredos e do partido alto, sublinhando a singularidade da obra de Martinho José Ferreira, o Martinho da Vila Isabel, bamba do samba.

 

Fonte: G1

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