“É tudo fantasia”, resume Chico Buarque ao fim do primeiro dos oito episódios da série Na trilha do som, dirigida e roteirizada pelo crítico de cinema e DJ Marcelo Janot.
Com foco na produção de oito compositores para cinema (André Abujamra, António Pinto, David Tygel, DJ Dolores, Gilberto Gil, Plínio Profeta e Remo Usai, além de Chico Buarque), a série Na trilha do som é produção da Urca Filmes em parceria com o Canal Curta!, que agendou a exibição do episódio inicial com Chico Buarque para 17 de junho, dois dias antes do 80º aniversário do artista carioca.
Em entrevista inédita, diante das câmeras posicionadas sob direção de Janot, Chico Buarque recorda a primeira memória cinematográfica – o filme norte-americano Sansão e Dalila (1949), visto quando morava na cidade de São Paulo (SP) – e lembra a influência que as operetas italianas e os filmes hollywoodianos adaptados de musicais da Broadway exerceram no artista.
A influência foi posta em prática a partir de 1966, ano em que Chico, então com 22 anos e já em evidência nacional como compositor, foi convidado a criar tema instrumental para a trilha sonora do filme O anjo assassino (1967), dirigido pelo ator Dionísio Azevedo (1922 – 1994).
Começou ali expressiva trajetória cinematográfica que atingiu o ápice nos anos 1970 e 1980 quando Chico Buarque compôs parcial ou integralmente as trilhas sonoras de filmes como Quando o Carnaval chegar (Cacá Diegues, 1972), Joana Francesa (Cacá Diegues, 1973), Vai trabalhar, vagabundo! (Hugo Carvana, 1973), A noiva da cidade (Alex Viany, 1975 / 1976), Dona Flor e seus dois maridos (Bruno Barreto, 1976), Bye bye, Brasil (Cacá Diegues, 1979), República dos assassinos (Miguel Faria Jr., 1979), Os saltimbancos Trapalhões (J. B. Tanko, 1981), Perdoa-me por me traíres (Braz Chediak, 1983), Para viver um grande amor (Miguel Faria Jr., 1983) e Ópera do malandro (Ruy Guerra, 1985).
Por conta do tempo limitado do episódio, cujos 20 minutos são ocupados pela entrevista do compositor, somente as trilhas sonoras mais importantes são abordadas, com direito a exibição de algumas cenas dos filmes em que a música de Chico Buarque está em foco.
Entre um take e outro, Chico lembra que a letra engenhosa de Joana Francesa – com palavras em português que soam como francês e vice-versa – foi escrita para a atriz e cantora Jeanne Moreau (1928 – 2017) com “um pouco de esnobismo”.
Mais tarde, o compositor conta que suprimiu da letra de Bye bye, Brasil – parceria com Roberto Menescal que batizou filme de 1979 – verso que continha o que caracteriza como “referência maliciosa” a Maceió (AL), cidade natal de Diegues.
Enfim, mesmo superficial diante do pouco tempo, o episódio inicial da série Na trilha do som cativa por se tratar de Chico Buarque de Hollanda, gênio da música, um dos maiores compositores da trilha sonora do Brasil. E isso não é fantasia.
Fonte: G1